quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Sobre os pots da guitarra (texto originalmente publicado no grupo do Roberto Torao no Facebook e revisado para ser publicado aqui):


O captador da guitarra é um transdutor. Transdutor é um aparelho que transforma um tipo de energia em outro tipo de energia. Tentando explicar de forma simples: o captador “sente” a energia mecânica do movimento das cordas e a transforma em corrente elétrica alternada. Resumindo: seu captador é um motor ao contrário.

Essa corrente elétrica alternada que sai da sua guitarra tem uma intensidade muito baixa (por isso precisa ser amplificada) e pode ter sua intensidade e forma controladas de várias maneiras. A mais primária está ainda na sua guitarra: os controles de volume e tonalidade. Esse controle é feito por potenciômetros que comandam um circuito passivo. O potenciômetro é um resistor variável. Circuito passivo é aquele em que se controla e molda a intensidade e forma do sinal apenas retirando elementos, nunca adicionando. Adicionar elementos a um sinal é papel de um circuito ativo. Na sua guitarra, os pots apenas retiram coisas, jogando-as pro aterramento e eliminando-as. Ele pode jogar o sinal inteiro (diminuindo o ganho e volume, que é o papel do pot de volume) ou usar um pequeno capacitor que filtra somente uma parte das frequências (é aí que entra o seu botão de tone).

Os pots possuem 3 pólos (vamos chamá-los de 1, 2 e 3). Quando totalmente aberto, um pot de 500K tem resistência zero entre o pólo central (2) e o pólo 1, enquanto apresenta uma resistência de 500K entre o pólo central e o 3. Portanto, o quando seu botão de volume está no máximo, o sinal da sua guitarra tem passagem 100% livre pra fora, mas ao mesmo tempo tem um vazamento de sinal pro terra enfrentando uma resistência de 500K.

Sua guitarra é uma caixa d’água. Os pots são as torneiras, mas essa torneira tem um “defeito”, um furinho embaixo dela em que a água também é desperdiçada. Quanto maior for a resistência do pot, menor é o desperdício de água da caixa d’água. 

Há 3 coisas que os músicos devem observar ao comprar potenciômetros pra sua guitarra:

1- Valor: já expliquei acima. Se você usar pots de valor mais alto no volume, mais ganho sua guitarra terá. Se usar pots de valor mais alto no tone, mais brilho sua guitarra terá. Raciocine assim: quanto maior, mais. Quanto menor, menos. Por isso usamos pots de 250K (e não 500K) em botões de tone de guitarras ou captadores muito agudos. A diferença é sutil, mas existe;

2- Tipo: há vários tipos de pot. Os mais populares são os tipos A (logarítimico) e B (linear). O tipo de pot determina a quantidade de resistência que o pot aplica ou retira de acordo com o giro do botão. Explicando: 

2.1 - no pot de 500K tipo B (linear), a variação da resistência é progressiva e gradual. Quando o seu botão está no 5, a resistência é de 250K. Portanto, no gráfico, o pot linear indica uma reta e X = Y. O pot linear é usado em botões de volume. Se você usá-lo em botões de tone, entre o 10 e o 2 você não vai perceber mudança alguma. Do 2 pro zero o seu agudo cai de uma vez. É uma droga...

2.2- no botão de tone você precisa usar o pot tipo A pois no tone nós vamos lidar com capacitância e ela não é linear. O pot tipo A tem um corte abrupto no começo do curso e isso é necessário pra trabalhar com o capacitor de tone. Você pode usar o tipo A no volume, mas vai haver um corte abrupto entre o 10 e o 7. Entre o 7 e o zero vai haver pouca diferença. Há como contornar esse problema usando resistores, mas isso é outro assunto.

3- Qualidade do pot: a única coisa que varia entre os Noble, CTS e aquele vendido em qualquer esquina é somente a durabilidade. Pot é a tudo mesma coisa: ela apenas varia uma resistência e não existe resistência boa ou ruim.

Obs. 1: existe a questão da tolerância de valores, e você pode aprender sobre isso num textinho q eu escrevi aqui: http://blogdoluthier.blogspot.com.br/2011_03_01_archive.html

Obs. 2: No seu equipamento há outro transdutor. Eu dou um pirulito pra quem me disser qual é.