sexta-feira, 29 de maio de 2009

Dimarzio Area

Eu sempre fui um guitarrista que usa humbuckers (esse blog não tem o nome que tem à toa, não é?). Mas não é que eu não goste dos sons de single. Pelo contrário! A minha repulsa aos singles dá-se única e exclusivamente por causa do ruído. Já vi em comunidades do Orkut pessoas dizendo que a blindagem resolve. Isso não é verdade. A blindagem não resolve o ruído dos singles. Ela apenas evita aquele ruído chato que aparece quando você retira as mãos da sua guitarra. O outro problema das strato é que quase todas têm 3 singles onde os pólos de cada um deles são os próprios imãs do captador que, em geral, são feitos de alnico V com carga máxima jogando atração magnética nas cordas. Pense bem: são 3 fontes de atração em cada corda. Isso quer dizer que vocês não podem aproximar muito os captadores das cordas. Isso mata o sustain e gera umas anomalias toscas na afinação em algumas notas (especialmente nas casas mais agudas das cordas G e D). Solução: afastar os captadores das cordas e perder ganho. Se eu corro, o bicho pega. Se eu ficar, tenho que lutar jiu-jitsu com ele.

Mas devemos mesmo buscar maneiras de eliminar o ruído dos single coils? Se sim, como fazê-lo? Captadores ativos? Stacks? O miraculoso circuito da Suhr? Ou será que os humbuckers em tamanho de singles que emulam os timbres de single são a melhor alternativa? Poucas vezes nesse tempo lidando com guitarras eu pude ver uma polêmica tão grande quanto essa.

Minhas primeiras experiêncisa com tentativas de sons de single sem ruído foram muito frustrantes. A primeira foi com o antigo stack da Seymour (STK-S1). Aquele captador é um horror. Depois foi com a primeira geração de Fender Noiseless. Péssimo. Logo depois eu usei a última geração de stacks da Seymour (STK-S4) que só não foi o pior de todos por causa da minha tentativa seguinte, que foi com a segunda geração de Fender Noiseless, o SCN, patente comprada do mestre Bill Lawrence. Minha Nossa Senhora das palhetas perdidas, esse captador é uma piada de mal gosto. O som é de plástico, duro, sem vida. Um horror.    

Não preciso nem dizer pra vocês o tamanho da minha decepção depois de tantas tentativas.               

Eu tenho à minha disposição um par de stacks da Tom Anderson (marca pela qual tenho profunda admiração pela qualidade do material) e da EMG, mas meu trauma com os stacks foi tão grande que nunca os coloquei em guitarras minhas. Eu não tentei nem mesmo usar a primeira geração de Dimarzio Virtual Vintage, e vocês sabem que eu gosto dos Dimarzio. Mas eis que a própria Dimarzio uma geração nova de Virtual Vintage, chamada de Area. Primeiro foram os modelos 58 e 61. Meses depois o Area 67 estava disponível. A proposta dos Area era levar os Virtual Vintage um passo à frente em termos de timbre e reduzir ainda mais o ruído. E lá fui eu conferir os captadores. Eu comprei o 58, o 61, o 67, o 54 Pro e o Virtual Vintage Heavy Blues 2. Tirem proveito disso, pois meu bolso reclamou.

A diferença de timbre entre os modelos 58, 61, 67 e 54 Pro é mínima e faz mais parte do marketing da Dimarzio. O Heavy Blues 2 já é, sim, mais gordinho. Todos são muito legais, mas o HB2 e o 58 foram os meus preferidos.

Vamos de cara para os prós dos Area:

1- Até conhecer os Area os captadores mais silenciosos que eu conhecia eram os Dual Blade do Rosar. Os Dual Blade continuam morando no meu coração sem pagar aluguel, mas os Area conseguiram a proeza de ser mais silenciosos ainda. Pessoal, o caso é sério: eles são tão silenciosos que às vezes em tiro as mãos da guitarra pra fazer alguma coisa e até penso que o botão de volume da guitarra está fechado. E olha que eu uso pouco ou nenhum noise gate;

2- Eles são feitos com alnico II. Isso quer dizer que a atração magnética é bem menor que nos single normais. Posso usá-los um pouco mais perto das cordas, ter um ganho extra e mesmo assim ter um alcance dinâmico excelente. Alnico II é ótimo nesse ponto! Esses elogios se estendem aos humbuckers com alnico II ou com alnico V com sistema de suavização de campo magnético;

Sérgio Rosar e eu conversamos muito sobre essas características e ele me chamou atenção para um fato. As maravilhas proporcionadas pelo uso de alnico II em singles geram um pequeno problema: como o alnico II tem uma carga magnética menor que o alnico V super saturado que usa-se normalmente em singles, nós acabamos abrindo mão daquele som percussivo maravilhoso que nós temos nas cordas graves quando usamos singles normais. A suavidade do alnico II oferece um som menos percussivo, mais doce e punch mais suave. Isso pode ser o que você está procurando pra amaciar aquela sua strato tremendamente aguda e rachadiça, mas saiba que esse não é o som de strato que nós ouvimos nos discos do SRV, Hendrix, Nile Rogers e outro strateiros de quem somos fãs.

Essa maior suavidade do ataque das cordas graves (quando comparados a singles reais) dos Area são o maior problema desses captadores. Eles falham em tentar gerar o som exato de singles clássicos, mas são sem dúvida muito melhores do que qualquer stack que eu tenha usado até hoje. Fico muito impressionado que a Dimarzio ainda não tenha atentado para isso. Se vocês consultarem o catálogo da Dimarzio poderão ver que os Virtual Vintage de ganho mais alto (Virtual Vintage Solo, Virtual Vintage Solo Pro e o Virtual Solo) usam alnico V. Claro que isso é por causa do ganho e esses não têm a proposta de soar como single, mas minha sugestão pra sanar esse problema dos Area é o uso do conceito do Five-Two da Duncan (alnico II pras cordas agudas e alnico V pras graves) ou simplesmente abandonar o uso de alnico II nos stacks. Mas pros conceitos da Dimarzio isso provavelmente seria dar um passo pra trás na busca por um stack com pouco atração magnética.

Os novos Virtual Vintage são timbristicamente convincentes, são silenciosos, têm um excepcional alcance dinâmico, mas não são essa maravilha toda que a Dimarzio alega. Eu mantenho aqui uma strato com a qual me divirto muito com Heavy Blues 2 na ponte e o 58 no meio e braço. Essa strato e uma tele são as minhas únicas guitarras sem captadores Rosar. E vou continuar usando essa strato com os Area. A não ser que eu consiga uns stacks Kinman e eles sejam mesmo essa maravilha toda que dizem por aí. A propósito: o Kinman parece concordar com a opinião do Rosar e acredita que o alnico V continua sendo a melhor idéia pros stacks.