domingo, 29 de junho de 2008

Livewire™ Dave Mustaine Model


Certo, eu tô com 27 anos de idade e 10 deles fuçando eletrônica de instrumentos, mas isso não me isenta de ter minhas preferências, vícios e preconceitos. As preferências eu cultivo com carinho, me ajudam e quase sempre são construtivas. Os vícios aparecem como efeitos colaterais das preferências e podem até ajudar, mas podem impedir que eu construa coisas novas. Os preconceitos podem ser efeitos colaterais dos vícios e muitas vezes são a razão da gente virar um velho chato e rabugento.

Meu preconceito com captação ativa vem de ouvir todo mundo que a usa e não gostar do som – com a honrosa exceção do David Gilmour. EMG acabou sendo a referência em captação ativa no mundo todo. Reconheço e aplaudo de pé todas as suas vantagens dos ativos: ruído baixíssimo, baixa impedância (que permite o uso de cabos longos ou pedais sem bypass total) e a não necessidade do aterramento da ponte (que te livra de eventuais choques no caso de algum vazamento de corrente ou curto-circuito no equipamento). Captadores ativos teriam impedido o horroroso acidente com um guitarrista fortalezense chamado Davi Fernades, que é meu cliente. Num show em Teresina ocorreu uma descarga elétrica no equipamento dele, talvez causada com um curto. Ele estava segurando a guitarra encostou a outra mão no amplificador. Ele estava aterrado pelas cordas e o choque foi grande que ele fraturou uma vértebra.

Zakk é o cara da moda, então eu vivo instalando os EMG 81 e 85 em guitarras aqui. Eu reconheço que o timbre é adequado pra metal extremo e eles têm um ótimo ataque, mas aqueles médios atarracados são complicados de eu engolir. Já tocaram nos EMG ativos de guitarra? Nunca acharam que a guitarra está “gripada” com aqueles médios saindo como se a guitarra estivesse com o nariz entupido? Aí vem a Duncan e lança a nova geração dos seus captadores ativos, dentre os quais o Livewire Mustaine. Eles juram pelo espírito do finado Seth Lover que eles soam como se fossem versões ativas do JB e o Jazz Model. E agora, o que eu devia fazer? Parei, pensei, filosofei, me enchi de coragem, tirei o escorpião do bolso e comprei os malditos.

Se a proposta era ser uma versão ativa do kit Hot Rodded, imaginei que o ideal era instalar os captadores numa guitarra macia e minha Horizon foi escolhida. Só que dando uma olhada no catálogo da Duncan eu vi que os picos de ressonância do kit Mustaine não casavam com o kit Hot Rodded – aliás, não passavam nem perto. Os Mustaine tinham picos em faixas mais baixas que o kit Hot Rodded. Fiquei encucado, mas mesmo assim resolvi esperar os captadores chegarem pra instalar na ESP.


O visual do captador é lindíssimo. Não tem aquela capa feiosa dos EMG e antigos Livewire. Ele tem uma capa metálica cor de grafite com a assinatura do Dave Mustaine estampada e por trás é totalmente selado com resina epóxi. Minha ESP ficou tão linda com eles que eles só saíram dela por causa do timbre: o que estava no catálogo era verdadeiro. Pro meu gosto pessoal os captadores não casaram legal com uma guitarra muito macia. Na Horizon eles não atingiram os picos de agudos que eu gosto pra atravessar o som da banda. Eu nem sonharia em colocar esses captadores numa Gibson.


Mas na minha Teleblaster de cedro aguda feito um curió os Mustaine apareceram e o careca que vos escreve teve orgasmos timbrísticos. Vamos começar pelo óbvio: eles têm um ganho um pouquinho maior que o JB e o Jazz Model, mas nenhuma diferença gritante em termos de ganho. Numa guitarra rachadiça, aquele brilho que faltou na ESP apareceu e o ataque dos agudos ficou bem evidente. Outra coisa que ficou misteriosamente evidente foi o DNA Duncan – os agudos crocantes tipo “mamãe, eu quero ser um captador Gibson!”, os médios amplos, o ataque marrento e até a leve falta de articulação do JB. Todo mundo sabe que pra mim o JB é a drag queen dos captadores (exagerado, caricato e espalhafatoso). No entanto, faça um exercício de imaginação e tente visualizar o JB depois de 3 anos no Exército. O Mustaine de ponte é isso. Curto, grosso, sem frescura, cabelo cortado com máquina, limpo e o mais surpreendente de tudo: não parece em nada com outros captadores ativos. Nada de som processado aqui. Quando eu ouço os EMG eu sei que são EMG e ativos. Mas se eu fizesse o teste cego com o os Mustaine eu jamais diria que é um captador ativo.


O de braço é satisfatório: moderado, agradável e articulado. Faz seu papel dignamente, mas faltou um pouco mais de brilho e informação de médio-agudos. Esse sim deveria ter um pouco mais do caráter do Jazz Model, que é um poço de cristalinidade e brilho. O Mustaine de braço não vai fazer feio na sua guitarra, mas a impressão que eu tenho é que a Duncan gastou mais tempo dando atenção ao modelo de ponte e não foi tão criteriosa na timbragem das faixas altas do outro.
Eu não vou gastar o meu tempo e o de vocês falando sobre o desempenho do captador em ganho alto – os captadores timbram polidos, poderosos, rugem alto e foram feitos pra um deus do metal que ressurgiu das cinzas. O que me deixou de queixo caído foi o desempenho dos captadores em ganho médio. Eles soaram são consistentes, tão dinâmicos, tão orgânicos e tão delicados que eu fiquei aqui sem entender como é que um captador com proposta metaleira me deu os sons do Jeff Beck do Blow by Blow!!! Nunca em nenhuma guitarra e captador meus me deram um som tão parecido com o de Cause We’ve Ended As Lovers!!! Não é brincadeira. Só vocês instalando pra acreditar. Curiosidade: veja a resenha sobre o JB e descubra quais captadores estavam na tele que o Jeff Beck usou pra gravar Cause We’ve Ended As Lovers.

Baixa atração magnética, baixa impedância e sem precisar de aterramento de cordas (as vantagens dos captadores ativos não fazem mal a ninguém, concordam?). Mas os Mustaine não têm sons de robô, têm visual deslumbrante e sons com DNA Duncan muito bons. A Duncan abriu a porteira pra fazer outros Livewire com sons mais orgânicos e talvez um par com ganho moderado. Por hora os Blackouts estão por aí devastando o planeta, mas soam mais próximos dos EMG. Enquanto isso os Mustaine são muito bons e não soam processados. Eles parecem apenas com ótimos Seymour Duncan clássicos. E isso é muito bom.

- Preferi usá-lo para: sons de ganho muito alto sem ruídos e timbres com ganho médio como os de Jeff Beck da era Wired e Blow by BLow.

- O que me passa pela cabeça quando lembro dos timbres que ouvi: que atirar nos sons do Megadeth e acertar em Cause We've Ended as Lovers é uma infelicidade muito feliz.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Sobre a parceria com a Sérgio Rosar Pickups

Muito bem, cá estou de volta às atividades e começo dizendo que estou muito feliz pela repercussão que o blog está tendo. Ando recebendo e-mails e recados no Orkut aos montes. Essa é a primeira coisa boa. A segunda é que através do blog eu fui contatado por um jovem senhor de Florianópolis chamado Sérgio Rosar. Ele é um construtor de captadores. Nesse momento a Rosar Pickups já conta com uma linha completa e à venda de single coils, humbuckers em tamanho single (que ele chamou de Dual Blade) e humbuckers de quatro bobinas (chamado de Quad Blade). O Sérgio me pediu para ajudá-lo a desenvolver sua linha de humbuckers e já estamos trabalhando feito dois malucos há quase dois meses. Até o momento em que escrevo esse texto eu já recebi 21 captadores Rosar que estão espalhados em “trocentas” guitarras minhas e em guitarras de duas pessoas de minha confiança para testes.

Amigos, dentre os Dual Blade, há dois modelos que estão fadados a ser um sucesso: o Twin Vintage (uma versão mini de um PAF, perfeito pro braço) e o Extreme Hot (captador de ponte bem agressivo). Com esses dois captadores o Sérgio conseguiu uma proeza: capturar tudo que eu gosto nos humbuckers em tamano de single e eliminar as deficiências. Eles são incríveis! Eu não tive nenhuma participação no desenvolvimento desses captadores. O mérito é todo do Sérgio.

Dentre os que estão em guitarras minhas há alguns que já estão definidos e outros que estão em desenvolvimento. Temos nesse exato instante três humbuckers de alto ganho pra ponte. Um deles o Sérgio chamou de Punchbucker. É o mais agressivo da turma e já tem seu companheiro pra braço definido. Fantástico pra quem desce a afinação. O segundo chama-se Rock King. Este não vai ter modelo de braço, pois achamos que a maioria das pessoas vai querer casá-lo com algum PAF no braço. Atenção, fritadores! Vocês vão gostar do terceiro! É o meu preferido até o momento e eu o batizei de Supershred. Este já tem seu modelo de ponte definido, fritado, testado e aprovado pelo careca que vos escreve. O Supershred está com seu parceiro de braço no forno e será definido em breve (tenho 3 protótipos em teste e um deles será o ponto de partida). Existe a possibilidade de um quarto captador entrar em cena, mas será um projeto futuro e será surpresa pra vocês.

Há dois PAFs em andamento. O primeiro deles é uma recriação do primeiro PAF, o de 1955, em que vocês terão muita dinâmica, muita suavidade, faixa de agudos extremamente detalhada e um som muito musical. Ele usará alnico 5, mas com um sistema de suavização do campo magnético, que torna o captador muito mais sensível à sua pegada e aumenta muito o sustain da sua guitarra. Assim como os PAFs de 55, esse captador não será parafinado. O segundo será uma versão com mesma quantidade de ganho, mas será parafinado, com menos detalhes de agudos e com o som gordo que todo mundo tá careca de ouvir dos PAF do fim dos anos 50. Ambos terão versões de braço e ponte. Nesse momento eu estou com 5 versões desses PAFs. Eu estou instigando o Rosar a fazer uma versão de um Hot PAF para a ponte depois que definirmos toda a linha.

Garanto a vocês que eu não estaria me envolvendo com um projeto se não fosse pra ser grande. Sérgio Rosar não está trabalhando pra criar uma linha “acessível” de captadores. Os produtos que eu tenho instalado nas minhas guitarras são, com a mais absoluta certeza, concorrentes diretos de Seymour, Dimarzio, Tom Anderson e Gibson, com a vantagem de ser mais baratos. Além disso, o Sérgio oferece um serviço de Custom Shop. Você quer um Tone Zone com menos médios? O Rosar faz.

Sérgio Rosar é um cara que me impressiona a cada dia. Ele é cheio de entusiasmo, dedicação ele escuta todas as minhas observações com atenção, mesmo que às vezes não concorde com todas elas. Ele me procurou querendo um parceiro de trabalho com o mesmo entusiasmo dele e encontrou. Lá se vão quase dois meses de trabalho sem parar – até aos domingos eu venho até a loja pra instalar captador em guitarra minha. Cada um de nós dois está fazendo sua parte com muito empenho e os frutos disso já podem ser observados e adquiridos por vocês. Vocês podem visitar o site www.sergiorosar.com e verificar os modelos disponíveis, embora os novos humbuckers ainda não estejam lá. Para qualquer esclarecimento vocês podem entrar em contato comigo ou com o Sérgio.

Portanto, eis o Zona do Humbucker e o seu fundador deixando de colaborar com vocês apenas virtualmente pra colaborar objetivamente – graças, é claro, ao trabalho de um pequeno gênio de Florianópolis. Esse é só o começo de um grande trabalho.