quinta-feira, 24 de abril de 2008

Aos companheiros de cordas que acompanham meu blog:

Um guitarrista chamado Raziel (um cara gente boa e íntegro, de quem eu até já comprei um par de captadores) fez o seguinte comentário no post passado:

Prezado Rafael, você escreve reviews para os guitarristas, ou para alguma revista? Porque pra vc tudo é bom! Tudo é "usável", assim fica difícil amigo. Parece review de Guitar Player, tudo uma maravilha...
É só minha opinião, os outros reviews eu li todos, este eu nem vou ler, porque certamente vai ser a mesma coisa, ou é bom pra uso X ou pra uso Y...

Bom, eu realmente adoraria escrever testes e esclarecer tópicos importantes sobre eletrônica de guitarras em alguma revista do ramo por dois motivos: o primeiro deles é que depois de 10 anos batendo cabeça com isso eu me sinto gabaritado para tanto - não custa nada lembrar o tanto de gente que tem por aí escrevendo besteira em coluna de revista e até mesmo publicando “guias de captadores” entupidos de informações incorretas. O segundo motivo é que eu vejo todo santo dia nos fóruns da net e no balcão da loja pela qual sou responsável um monte de gente desinformada comprando gato por lebre e eu gostaria muito de oferecer a essas pessoas um meio simples, fácil, barato e até mesmo divertido de obter informações sobre nosso instrumento.

É por esses dois motivos que eu adoraria escrever uma coluna numa revista. Acontece que é por esses mesmos dois motivos que eu me autorizo a escrever nesse blog. Se eu não me sentisse capaz de contemplar um deles dois eu jamais teria feito o Zona do Humbucker.

O outro ponto que eu gostaria de comentar acerca do que foi dito é muito óbvio. É claro como a água que todos os timbres são utilizáveis! Não existe som ruim. Existe timbre mal empregado. Imagine que você toca numa banda de baile. Imagine você tem à sua disposição uma elegante Les Paul - com seu timbre redondo e polido - e tem uma B.C. Rich Warlock. Qual das duas você escolheria? É óbvio que a Warlock é uma boa guitarra, mas ela se presta a uma outra coisa. Ou será que você imagina ir ao um show do Sepultura e ver o Andreas com uma 335?

O fato é que eu evito ao máximo fazer comentários tipo “esse captador tem médios muito feios”. Ora, o que raio é um médio feio? Eu não uso nenhum aparelho de medir qualidade de captador. Não existe um “belezômetro” nem um “feiômetro”. Sempre que eu vou fazer algum comentário baseado no meu gosto pessoal eu faço questão que isso fique bem claro e que não sirva de referência pra ninguém.

Eu nunca quis fazer isso no blog, mas vou confessar: eu não usaria um monte de captadores que na verdade são bem famosos! Quer um exemplo? O JB não teria lugar em nenhuma guitarra minha, tanto que vendi 2 dos 3 da minha coleção no mês passado. Ora, mas e daí? 90% dos seres guitarrísticos do universo adoram esse captador! Eu mesmo adoro escutar Michael Schenker e o Marty Friedman - que usaram o JB por décadas! Eu vendi meu PAF Pro, pois para o meu gosto pessoal ele não tem brilho o suficiente pra ir pro braço e é muito desarticulado pra ir pra ponte. E tem um monte de gente por aí que tem o Pro e é muito satisfeito com ele. O que é que você quer que eu faça? Quer que eu chame todo mundo de surdo? Quer que eu diga que todo mundo que pensa diferente de mim tem mal gosto? Eu não posso fazer isso! Como guitarrista, como luthier e como gerente de loja eu tenho mais é que ficar feliz pelos meus colegas de instrumento estarem satisfeitos! Pra mim é só isso que importa.

A última coisa que eu quero dizer sobre seu comentário é que você não é obrigado a ler nenhum dos posts. Se o meu estilo de fazer textos não lhe agrada é um direito seu e você deve exercê-lo se lhe for conveniente. Apesar disso eu tenho muito orgulho em dizer que esse blog recebe quase 100 visitas por dia na semana em que eu publico textos - e na ocasião do texto sobre o JB ele recebeu mais de 260 num único dia. É por causa desse blog que hoje eu tenho um monte de companheiros que me mandam e-mails, recados no orkut, comentários aqui no blog e esses mesmos companheiros me compram e vendem captadores e outras peças. Isso me dá muito estímulo pra continuar escrevendo apesar da minha falta de tempo – afinal eu sou luthier, cuido da loja o dia inteiro, atendo na clínica durante a noite (pra quem não sabe: eu sou psicólogo) e ainda tenho que arranjar tempo pra namorar, estudar e lutar jiu-jitsu!


Dito isso, esbravejo: longa vida à Zona!!!

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Dimarzio Fast Track 1 (DP181)



Até um tempo atrás eu não dava nenhuma credibilidade aos humbuckers em tamanho single. Parte dessa descrença veio de experiências ruins que tive com os humbuckers em tamanho single da Seymour (os JB Jr. e Litlle 59 aí da vida). Tanto que demorei anos pra me interessar em testar os Dimarzio.

A idéia de fazer um captador com duas lâminas é mais velha do que andar pra frente, mas no caso desse tipo de humbuckers em tamanho de single da Seymour e Dimarzio há uma grande vantagem: como os imãs são pequenos, a atração magnética é reduzida e as cordas vibram com mais naturalidade. Isso melhora a entonação e sustain da sua guitarra. Além de tudo isso esses captadores deixam as guitarras com um aspecto mais moderno.

Eu ouvi o som do Fast Track 1 pela primeira vez numa guitarra de um cliente (uma lindíssima Washburn com configuração HSS com o FT1 no braço) que veio trazê-la pra regulagem. Olhei pra guitarra e pensei: “mais um dos pickups com som de plástico”. Mas essa impressão durou até o momento em que o cara plugou a guitarra e tocou pra me mostrar o quanto a guitarra estava mal regulada. O captador de braço soava como se fosse o single coil mais gordo e cheio de punch do mundo. Olhei pra ele com cara de idiota e perguntei que captador era aquele e ele disse que era o FT1. E olha que a Washburn parecia que tinha sido regulada por um açougueiro e as cordas estavam muito velhas.

No outro dia eu olhei o catálogo da Dimazio e não compreendi bem a proposta do FT1: o catálogo dizia que ele soava como “um single com mais músculos”. O problema é que eu ouvia os sons do Vinnie Moore e não entendi como um captador com pouco médio pode me parecer mais “musculoso”. E como ele usava todo aquele ganho sem que o captador engasgasse como os singles costumam fazer? Ainda mais no braço!

De qualquer maneira eu comprei um o quanto antes e testei nas minhas guitarras. Consegui aquele milagre daquela Washburn! A primeira coisa que me ocorreu ao ouvir os sons é que, sim, ele soa um pouco mais processado e artificial do que um Texas Special da vida, por exemplo. Mas ora, isso não é um problema. Se alguém resolve colocar um FT1 na guitarra é justamente por querer uma coisa diferente de sons “normais” de captadores vintage, concorda? Mas veja: essa característica é muito discreta, não é som de plástico como eu achava antes de conhecer o captador.

Ele tem graves mais magros que o normal pra não engasgar nas cordas graves da sua guitarra. Ele tem brilho o suficiente pra não desaparecer no meio da sua banda. Os médios dele parecem ter sido mais sequinhos de propósito: você pode estar usando distorção num nível de Slayer que o som de captador do braço sempre vai parecer mais limpo e sem gordura demais de médios pra embolar. Quando eu toquei com muito ganho eu entendi em pouco tempo as razões que levam os fritadores a ter um caso de amor com o FT1, mesmo ele não sendo um captador de ganho alto: o fato dos médios e graves serem mais sequinhos fazem com que o som fique claro e não apastelado e embolado. O ataque permanece sempre focado e o punch da palhetada é sempre bem nítido antes da nota começar a soar, os graves são muito consistentes e não são esponjosos (tá vendo como só como soar um pouco processado não é tão ruim?).

E você quer saber as melhores partes? Primeiro: diferente dos humbuckers em tamanho de single de ganho mais alto (Tone Zone S, Super Distortion S, JB Jr. e outros) o FT1 responde bem a dinâmicas de palhetadas e botão de volume. Segundo: timbra magnificamente com níveis médios e baixos de ganho. Terceiro: ele é tão transparente que o som da sua guitarra aparece claramente!

Se você gosta do som da sua strato mas quer um captador de braço mais ofensivo, experimente o FT1. Você poderá aumentar o ganho do seu amp mas o som de single continuará lá quando você usar o canal limpo ou recuar o volume da sua guitarra. Infelizmente isso não acontece com os outros captadores citados.

Testei o FT1 em um pourrilhão de guitarras e em absolutamente nenhuma ele soou mal. Tenha você um bom e velho PAF na ponte ou um Invader (pra citar dois captadores muito diferentes) e quer um captador de braço que te leva a muitas áreas de timbre diferentes sem sacrificar o som natural da sua guitarra, você deve testar um FT1.

Só mais uma observação: onde ele soou melhor foi no braço da Soraia, a minha famosa telecaster que pegou fogo e que timbra insanamente aguda e rachadiça. Coloquei fotos dela nesse post. Essa tele tem um Super Distortion T na ponte.

- Preferi usá-lo para: bombar stratos sem ter que trocar o escudo para colocar um humbucker normal.

- O que me passa pela cabeça quando lembro dos timbres que ouvi: que palhetadores compulsivos como eu podem ter no FT1 o seu melhor amigo pra posição do braço.