quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Seymour Duncan Parallel Axis Trembucker - PATB1


Esse foi um dos primeiros bons captadores que eu tive na minha vida - e tocar com ele me traz lembranças muito legais de quando eu estava batendo cabeça com minhas primeiras experiências com eletrônica de guitarra.

O visual do captador é muito legal: ao invés de 12 pólos, ele tem 24 lâminas paralelas. Portanto, você tem 4 lâminas “cercando” cada corda ao invés de dois pólos jogando atração magnética diretamente sobre ela. A Duncan afirma que a disposição dessas lâminas faz com o a corda vibre de maneira mais natural e que a captação do som aconteça de maneira mais detalhada. O resultado disso, segundo o fabricante, é um sustain maior e um timbre único, descrito no catálogo como “hi-fi”.

Averigüar o sustain de um captador é coisa complicada pra mim, pois sempre toco muito alto, com drive e com pouco ou nenhum noise gate – coisas que sempre aumentam o sustain. Então não tenho como avaliar precisamente se um captador favorece a sustentação das notas – exceto em casos em que o captador mata demais o sustain, como o Invader.

Por favor, não estou nem um pouco interessado na velha e chata polêmica do “Dimarzio timbra artificial e Duncan é mais vintage”. Isso não vem ao caso e não leva a nada. O fato é que, sim, a maioria dos captadores da Duncan soam um pouco mais “orgânicos” e a maioria dos Dimarzio são um pouco artificiais, mas o fato é que Steve Blucher e Larry Dimarzio focam seus esforços em oferecer um determinado tipo de som, enquanto Seymour Duncan e sua equipe têm produtos claramente inspirados nos Gibson, portanto perseguem outra timbragem. Veja que enquanto a Dimarzio oferece ótimas reedições dos antigos PAF e grandes singles vintage, a Seymour também oferece captadores de som mais moderno – como nosso amigo PATB aqui – o que pelo menos diminui com a polêmica acima descrita.

Mas como o que mais me importa é o timbre, saiba que o PATB me faz uma criança feliz. Ele é um Duncan que não persegue um som baseado em coisas vintage: nada de “organicidade” aqui. O foco desse captador é um som realmente um pouco sintético, com médios discretos e um timbre que, assim como o Fred (olha o som Dimarzio aí...), articula as notas de maneira diferente à medida em que você injeta ganho no som e é aí que está uma grande característica do PATB: ele foi um captador orientado para sons de alto ganho e os metaleiros o adoram (Kiko Loureiro usa o captador, assim como Richard Patrick, do Filter), mas ao contrário da maioria dos captadores orientados para metal, o PATB não soa murcho com níveis modestos de ganho. Pelo contrário. Ele soa muito consistente se você resolver usá-lo na sua banda de pop-rock. Enquanto o Fred fica cada vez mais pontiagudo à medida em que se aumenta o ganho, o PATB fica mais tangível, os feedbacks são controláveis, a distorção se torna cada vez mais agradável aos meus ouvidos e o sustain fica mais doce e cantante. Ele nunca vai soar pontiagudo, power chords violentos soam extremamente consistentes e você vai dar risada quando tocar riffs do Sabbath – os bicordes sinistros do mestre Iommy tocados com o PATB soam como se a tônica e a quinta fossem um só bloco sonoro sólido feito um tijolo.

Se você toca com afinações graves e/ou dropadas, vai adorar o PATB, pois seus médios mais sequinhos fazem a festa de quem desce o mizão e ajuda seu som a ter uma distorção agressiva e sem ser podre.

Não é todo dia que a gente encontra um captador com tantas qualidades e que soa tão bem em tantas situações timbrísticas. Minha única reclamação é, na verdade, uma solicitação: seria ótimo que o conceito de lâminas paralelas e timbre único fosse expandido a captadores de ponte para guitarras de ponte fixa – lembre-se de que o PATB é feito para guitarras com ponte Floyd, com espaçamento maior. Se você colocar um deles numa Les Paul você terá problemas de captação nas cordas mi. É uma pena. Esse timbre ia arrasar numa Les Paul. Se você usa guitarras com Floyd e quer detonar, vá pelo seu amigo aqui: o PATB é um captador muito especial.

- Preferi usá-lo para: riffs de metal industrial ou qualquer outra coisa que não precise de timbres "orgânicos", bem como afinações graves e/ou dropadas.

- O que me passa pela cabeça quando lembro dos timbres que ouvi: que "organicidade" não faz falta quando você quer devastar o planeta com um grande timbre.

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Captador Clássico: Seymour Duncan JB (SH-4)


O velho Seymour Duncan conta uma história muito interessante: ele quis fazer uma guitarra para Jeff Beck nos anos 70 depois que a Les Paul que Jeff havia tocado no álbum Truth fora roubada. Jeff ainda não havia feito a transição para as Fender, então Seymour pegou uma velha Telecaster, tirou sua escala de maple e colocou uma escala bem grossa de jacarandá. Ele colocou trastes Gibson. Sua intenção era fazer um braço parecido com o braço gordo da Les Paul de Jeff. A eletrônica era comum, exceto pelos captadores: Seymour tirou os PAF quebrados de uma Flying V que era do bluesman Lonnie Mack e os enrolou a mão. Ele quis fazer um captador de ponte com bobinas simétricas e saída mais alta, mas com o imã alnico do PAF. O resultado foi um captador de saída em milivolts alta, que alcançava uma faixa de médios ampla e que gritava com agudos berrantes se colocado numa guitarra muito aguda – esse é, até hoje e com poucas alterações, o Seymour Duncan JB. A sigla JB quer dizer Jeff Beck. O captador não se chama Jeff Beck por razões contratuais com o velho Jeff e não sei a razão disso. Para todos os fins eles passaram a dizer depois que JB quer dizer Jazz & Blues, o que é uma tremenda besteira.

Ao longo desses anos eu tive vários captadores desse modelo. Já devo ter instalado em uma dúzia de guitarras que eu tive e numas 25 guitarras de clientes – afinal, o JB é a primeira opção de upgrade das guitarras de 70% dos roqueiros. O principal motivo da popularidade do JB é o marketing que foi feito sobre ele – embora hoje a Duncan pareça concentrar seus esforços de marketing em popularizar sua linha de pedais.

Uma das coisas que aprendi sobre esse captador é que os resultados dependem muito da combinação com a guitarra. Claro que todos os captadores são assim, mas qualquer captador que tenha alguma freqüência exagerada vai depender da guitarra, do amp e do guitarrista para equilibrar isso.

No caso do JB, saiba que os graves podem desaparecer se você colocá-lo numa guitarra que timbre muito rachadiça. E saiba também que você vai ter uma estranha ponta de agudos. É como se o JB não fosse propriamente um captador com muitos agudos, mas há uma pequena faixa específica em que ele fala muito alto - alto demais e esse é o problema pra mim. Pode ser que você goste dessa faixa exagerada ou que você tenha uma guitarra e um amp que suavizem isso, mas nunca consegui me livrar dessa pontinha de agudos cortantes.

Outra coisa que você terá em abundância são os médios. Amigos, não são quaisquer médios. É um PAREDÂO de médios. Posso estar errado e ficando surdo, mas escuto o som do JB como se a faixa de médios fosse ampla e alta, muito alta.

Os resultados dessa massa sonora sempre foram complicados nos meus ouvidos. Eu sempre gostei de ouvir outros guitarristas com JB e isso é que é o estranho. Pode ter certeza que o JB estava em alguns dos melhores sons de guitarra que você já ouviu – de Marty Friedman a Paul Stanley, para não falar do cara que é pra mim o Santo Graal do timbre: Michael Schenker. Os melhores resultados que já obtive com o JB não foram com guitarras minhas. Um deles foi numa Epiphone Les Paul Custom de um cliente. Nela a famigerada pontinha de agudos pareceu ser domada e os graves marcaram mais presença. Os médios continuavam lá, mas me pareceram estruturar o ganho de maneira mais redonda. A outra guitarra em que o JB falou muitíssimo bem foi numa ESP Kirk Hammet de um cliente que não estava mais satisfeito com o som dos EMG originais. Eu tenho que admitir que o som dessa guitarra ficou simplesmente absurdo.

Mas o fato é que eu percebo no JB mais do que eu qualquer outro Duncan o “DNA” da Seymour Duncan, que me parece muito derivado do “DNA” Gibson, com aqueles agudos “crocantes”, granulados. Nos meus ouvidos é como se a faixa mais aguda do som tivesse uma ardência “pipocante”. Desculpe se a descrição parece muito vaga, mas é difícil descrever isso. Como os captadores Gibson são quase sempre instalados em guitarras Gibson, as pessoas têm dificuldades em perceber ardência ou a granulação. Essa característica dos Duncan me incomoda muito em certas guitarras. E o JB – que além disso tem aqueles agudos cortantes e os médios que atravessam qualquer coisa – acabou sendo um captador quase maldito pra mim. Eu tenho 3 JB na minha coleção. Um deles tem nickel cover e coloquei-o na ponte da minha Santana SE há um tempo atrás. Os resultados de equalização foram legais, mas a maneira como o ganho dos agudos do JB se estrutura continuou me incomodando e preferi pôr o Seth Lover dela de volta no lugar.

Ora, mas é claro que devemos levar em consideração que essas características que me incomodam talvez sejam justamente as que você está precisando pra bombar o seu timbre! Quer fazer com que seus médios apareçam no meio da sua banda com mais clareza e força? Quer tirar o velho PAF da ponte da sua Les Paul para colocar um captador com saída mais alta? Quer que seus agudos fiquem mais cortantes para que o público ouça melhor seus tappings e legatos? Está cansado da distorção lisa dos Dimarzio? O JB na ponte pode ser a solução pra você.

A propósito: lembram daquela Tele que o velho Duncan reformou? Jeff usou-a em Cause We’ve Ended As Lovers. Para bom entendedor…

- Preferi usá-lo para: instalar nas guitarras dos clientes e vê-los satisfeitos.

- O que me passa pela cabeça quando lembro dos timbres que ouvi: que quero ouvir Michael Schenker pelo resto da minha vida, mas os três JB da minha coleção estão guardados numa gaveta.