terça-feira, 28 de agosto de 2007

Dimarzio Fred (DP 153)

Esse é um captador engraçado. Segundo o site da própria Dimarzio, ele nasceu de uma experiência que deu errado. Tudo aconteceu quando eles tentaram criar um captador que fosse irmão PAF Pro, mas com um pouco mais de médios. Ao enviar o captador para Joe Satriani, este percebeu características únicas no captador: ele não ficava cada vez mais gordo ao acrescentar distorção e volume (como acontece com a maioria dos humbuckers), mas sim ficava cada vez mais cortante e os harmônicos pipocavam do instrumento com facilidade. Pronto, nasceu o Fred – o principal captador de ponte de Joe por muitos anos.

O Fred padece de uma maldição parecida com a do JB: as características dele que são amadas por muitos são exatamente as características que os outros detestam - embora sejam captadores totalmente diferentes.


Instalado na minha Teleblaster #2 (com corpo de cedro, braço de marfim, escala de ipê, ponte Kahler e cordas 0.11), o Fred confirmou tudo o que se dizia sobre ele: ganho igual ao do PAF Pro, agudos cortantes e um som cheio de harmônicos e geração fácil e controlável de feedback. Não consegui extrair dele timbres massacrantes de bases com aquela mordida tipo Metallica – os graves e médio-graves dele são contidos e difusos demais pra isso. É muito estranho, mas é como se ele não gerasse consistência na montagem de bicordes massacrantes. Portanto o Fred não é um captador que eu indicaria para sua banda cover do Black Sabbath.

Vamos às particularidades que eu gostei: você ouve os médios desse captador facilmente - não por serem exagerados, mas por serem muito consistentes. Não sei bem como explicar isso, mas é como se os médios dele fossem “sólidos” no meio do som. Achei isso muito legal. Os agudos são cortantes, mas não são exatamente estridentes. Essas duas faixas de freqüência do Fred são justamente o que poderiam te ajudar a ser ouvido no meio de uma banda barulhenta. E se você for o único guitarrista da banda, tenha certeza que essas freqüências vão estar bem preenchidas. Como os médios são firmes e os agudos atravessam uma banda feito uma flecha, tenha certeza de que o Fred valoriza muito técnicas de ligaduras loucas no estilo de Alan Holdsworth.

Tentei timbrar o captador para estilos amenos como Rolling Stones. O som ficou interessante, mas acho que é um pouco complicado fazer isso com o Fred por ser um captador de saída alta demais para sons de blues-rock. Mas verdade seja dita: ele responde muito bem às dinâmicas de palhetada e alterações no botão de volume. Instalado na posição do braço o timbre ficou bonito, mas eu prefiro captadores com timbres mais brilhantes para o braço.
Me bateu uma tremenda vontade de testar o Fred numa boa Les Paul, mas não pude fazer isso até hoje. Talvez assim os graves ficassem um pouco mais esponjosos e os agudos ficassem mais contidos.

O fato é que equipe da Dimarzio atirou no que viu e acertou no que não viu: tentou injetar médios num captador e acabou gerando um monstrinho que recomendo enfaticamente para um guitarrista de estilo fusion que abuse de legatos e não tenha interesse por power chords esmagadores. Fred foi é fruto de um erro q deu muito certo.
Não é à toa que Joe usou e abusou desse captador por tantos anos, pois o Fred se encaixa perfeitamente ao estilo do careca da Ibanez cromada.

- Preferi usá-lo para: fusion, fusion, fusion!!!

- O que me passa pela cabeça quando lembro dos timbres que ouvi: percebi o quanto Joe deve ter ficado feliz por ter encontrado um captador que valorizasse tanto o estilo dele.

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Seymour Duncan Full Shred (TB-10)


Muita calma nessa hora. Vamos como o estripador londrino - por partes. O site da Seymour diz: “timbre de alta saída para ritmos pesados e riffs velozes. Usado para rock clássico, rock pesado, hip hop, fusion e técnicas agressivas de solo. (...) Oferece controle timbrístico em situações de alto ganho. Menos agressivo que o Duncan Distortion, mais articualdo que o Duncan Custom”.

Esse é um bom começo para descrever o FS. O problema é que essa descrição (a começar pelo nome do captador) sugere que o metal técnico é a única aplicação do captador. Isso é meia verdade. Fiz 3 shows com a minha finada banda de rock’n roll (tocávamos covers de David Bowie, Kinks, Clash e músicas próprias baseadas nesses estilos) com o FS instalado na minha Frankenstrat #1 e os resultados foram muito, muito consistentes e rockers. Mesmo com o ganho estilo AC/CD, bastava recuar um pouco o botão de volume que o timbre ficava satisfatório para tocar Suffragette City (embora deva dizer que uso capacitores de 330 pf no botão de volume com potenciômetro linear, o que ajuda muito). O fato é que o timbre ficava carnudo e dava vontade de descer a mão na guitarra sem um pingo de dó.

O visual do captador é muito invocado: diferenciado por ter todos os pólos de parafuso alen. Ele tem cara de malvado, embora não tenha a cara de tanque de guerra do Invader.

Testei-o em TODAS as minhas guitarras e em nenhuma sequer o timbre ficou menos do que ótimo. Ele responde maravilhosamente às dinâmicas de palhetada e aos controles da guitarra. Entretanto, devo confessar que é com o drive no talo que o FS mostra a cara de verdade. É natural que se faça comparações entre ele e o JB. Mas é aí que entram as pequenas diferenças que podem influenciar você na hora da compra. Eu posso apontar algumas diferenças que podem ajudar:

1- O FS tem médios mais contidos, enquanto que o JB tem aquele paredão de médios que atingem o ouvinte como uma tijolada na orelha. Eu arrisco dizer que os dois têm a saída em milivolts praticamente igual, mas o FS tem um drive mais polido justamente por ter médios não tão esporrentos – mas embora ele não tenha o punch brutamontes do Distortion, os power chords com ele são muito, muito carnudos. Mas talvez exatamente por essa falta de médios, ele apresentou menos notas sustentadas por feedback do que outros humbuckers;

2- Os agudos do FS são mais polidos e redondos, mas que aparecem muito facilmente no meio da sua banda. De qualquer maneira, acho difícil que você recorra ao botão de tone pra alguma coisa com o FS;

3- E eis a característica que mais gostei: como sugere a descrição da Seymour, o FS valoriza muito as técnicas acrobáticas na guitarra - tenha certeza que seus tappings, sweeps, palhetadas-metralhadoras, legatos, duplo twist carpado e contorcionismos aparecem com muita facilidade. Comprei há um mês uma ESP Horizon e ela veio com JB. O JB soa muito bem, mas eu sabia que a guitarra poderia soar melhor. Tentei o Tone Zone, mas percebi que a Horizon timbra macia, então resolvi instalar, um captador que fosse mais cortante, mas não tão esporrento quanto o JB. Um chiclete Ploc Gigante pra quem adivinhar o que eu fiz! Instalei o FS e confesso: minhas palhetadas nunca pareceram tão claras, as notas nunca pareceram tão articuladas e nunca tive um tive de alto ganho tão consistente e com ganho na medida que eu prefiro.

A diversão é garantida e suas notas vão ter uma articulação muito mais natural e redonda. O Full Shred parece ter sido feito para facilitar a vida dos guitarristas de quase todos os estilos. Guitarras feitas com madeiras macias vão agradecer pela instalação do FS. Nunca casei tão perfeitamente um captador com uma guitarra como o FS com a ESP. Para minhas preferências de timbre e articulação, o FS tira 10 com louvor.

- Modelo testado: trembucker

- Preferi usá-lo para: qualquer overdrive carnudo e polido de médio ou alto ganho; técnicas acrobáticas.


- O que me passa pela cabeça quando lembro dos timbres que ouvi: que Seth Lover deve dar uma gargalhada de alegria no seu túmulo a cada power chord da minha ESP.

terça-feira, 21 de agosto de 2007

Captador Clássico: Dimarzio Super Distortion (DP100)


Nada mais justo do que começar minhas atividades com a publicação das minhas impressões sobre um clássico. A Dimarzio foi a primeira empresa a lançar captadores avulsos e propor personalização de timbres. No meio dos anos 70, quando foi lançado, o SD abriu os horizontes para a confecção de timbres extremos, pois foi o primeiro captador de potência altíssima lançado. Logo de cara ele começou a ser usado por muita gente famosa – como John Abercrombie e Al Di Meola, o imperador da Les Paul. No começo, ele se chamava Dual Sound e trazia 3 condutores, onde podia apenas ser ligado como humbucker e splitado. A versão posterior, com 4 condutores, traz outras possibilidades de timbre.

O SD é um captador meio maldito no Brasil. Isso acontece por vários fatores: o próprio nome do captador causa arrepios em pessoas que gostam de timbres mais amenos. Outro fator curioso é que muita gente detesta os sons daquelas guitarras dos anos 80 – e muitas delas vinham com o SD de fábrica. Essas pessoas talvez não lembram de como aquelas guitarras dos anos 80 eram péssimas – com aquelas tranqueiras de alavancas tipo Floyd Rose feitas de materiais duvidosos e madeiras meia-boca – e talvez não lembrem também que Al Di Meola tinha os timbres de Les Paul mais gordos e polidos do universo (ouça o cd ao vivo Tour De Force), que Abercrombie é um jazzista e Ace Frehley tem ótimo timbre de rock’n roll.

Coloquei o SD na minha Teleblaster (tele com dois humbuckers feita de freijó e braço de marfim) e na minha Frankenstrat (feita com partes de várias guitarras). Ambas têm ponte Kahler e cordas 0.11. Na tele os timbres foram ótimos. Uma completa surpresa pra mim, que sempre fui desconfiado com esse captador e nunca fui com a cara de captadores de imã cerâmico.

O que eu descobri com o SD e outros captadores Dimarzio é que eles podem ser extremamente articulados no que tange a técnicas de palhetada mais extremas. Explico: sempre fiquei muito impressionado ao ver e ouvir o Paul Gilbert com suas palhetadas insanas usando sempre o captador da ponte - sem nunca partir para o revezamento frenético entre captadores como fazem Steve Morse e Malmsteen. Gilbert é sempre limpo e articulado, sem que as notas pareçam “mascadas” por palhetar rápido usando sempre o pickup da ponte. Se sua técnica de palhetada estiver em dia e você abafar devidamente as cordas que não estiver tocando, o SD te brinda com uma articulação legal e agressiva.

O som em ganho médio tem que ser bem trabalhado – qualquer ganho a mais faz com que você entre na área do metal. Ao contrário do que eu imaginava, o overdrive é bonito e redondo, mas talvez em guitarras que timbrem mais rachadiças o timbre fique muito metalizado e estridente – nessas horas faz bem à saúde ter um controle tone para o captador da ponte. O overdrive tem a textura tipicamente “lisa” dos Dimarzio, diferente das texturas granuladas e crocantes dos Seymour.

Na strato ele ficou melhor ainda. Nela eu pude explorar outros timbres devido à chavinha de três posições que eu instalei para ligar o captador em série, paralelo e single coil. Muito legal! Sons de ganho médio com o pickup em paralelo soaram ótimos e a diversão é garantida para quem não quer tocar Anthrax. Em single o som é bem convincente, mas o ruído me é insuportável.

Com 425 milivolts de saída, o SD brilha com facilidade em estilos mais extremos – de Dio a Metallica você vai se sentir em casa (embora eu não o usaria em casos de ganho extremo como Napalm Death). O SD soa agressivo e cheio, mas não soa “podrão”. Se você ligar em paralelo, vai poder tocar com ele na sua banda de covers do AC/DC (segundo o site da Dimarzio, o Paul Gilbert usava dois SD em paralelo na época antiga do Racer X. Esse pickup não tem nenhuma freqüência sobrando e harmônicos de palheta saem facilmente. Ele não está nos meus Top 5, mas está nos Top 10.


Preferi usá-lo para: riffs do Metallica e palhetadas insanas.

O que me vem à cabeça quando lembro do timbres que ouvi: que as pessoas testaram o captador em guitarras muito ruins. O SD é injustiçado.

Entrando na Zona do Humbucker!

Este blog está nascendo da minha necessidade de compartilhar com outros guitarristas os quase dez anos de experiência em eletrônica de guitarra. Vou tentar explanar sobre alterações e características de todo a eletrônica da guitarra, mas o que vai predominar aqui é a publicação das características principais de alguns humbuckers disponíveis no mercado aos quais eu tiver acesso – além, é claro, das minhas impressões sobre eles. Escolhi os captadores humbucker justamente pela sua proposta de eliminar o que há de mais nefasto no nosso instrumento: o ruído. Não cabe a mim dizer se um humbucker é bom ou ruim. Não posso fazer isso. Como vocês poderão perceber, alguns humbuckers não serão do meu agrado – considerando o que eu toco ou o meu timbre - mas serão indicados para outras pessoas ou para outras aplicações.

Acho que parte do meu trabalho será o de esclarecer as pessoas interessadas nesses fascinantes geradores de som e eliminar lendas e mal-entendidos. Para tanto, precisamos levar em consideração as zilhões de informações disponíveis, analizar resultados, corrigir desvios, esclarecer mal-entendidos e levar até vocês as informações de maneira mais confiável.

Não vou ocupar o tempo e vocês com explanações sobre o que é uma resistência DC, o que é o imã e quais os seus tipos ou que são as possíveis ligações dos captadores. Sites como o do grande Bill Lawrence têm informações bem legais e detalhadas sobre isso.

Vamos começar por algo bem simples: cada fabricante de captadores fornece em seus catálogos e sites as características de cada captador. Alguns são mais completos, como a Dimarzio e a Seymour Duncan. Outros são um desastre e não fornecem muita coisa além de descrições bem breves, como a EMG. Fabricantes como a Bartolini não fornecem nem fotos e têm sites que parecem ter sido feitos por uma criança. Não quero que isso pareça um xingamento, mas sim uma solicitação por mais informações sobre seus produtos.

Usemos os exemplos mais completos. A Seymour e a Dimarzio têm em comum o fornecimento de dados como resistência DC, fotos do produto, equalização do captador, tipo de imã, ligações possíveis e uma descrição das características do produto. Todas as informações são úteis, mas há duas coisas serem levadas em conta: a Duncan fornece o pico de ressonância (ressonant peak), a Dimarzio fornece a saída em milivots do captador e as diferenças entre as equalizações fornecidas pelas duas empresas.

Comecemos pela questão das equalizações. O modelo Duncan JB, por exemplo, apresenta, segundo o catálogo, 5 de graves, 6 de médios e 8 de agudos. O modelo Dimarzio Tone Zone apresenta 5 de agudos, 8,5 de médios e 8,5 de graves. A impressão imediata é a de que o Tone Zone tem muito grave de nenhum agudo e que soaria apagado se comparado ao JB.

Essa confusão é antiga. Isso acontece pelos referenciais dos fabricantes, que são diferentes. A Duncan fornece a equalização aproximada do captador quando instalado na sua posição indicada – no caso do JB, a ponte. A Dimarzio fornece a equalização “natural” do captador, não dependendo de onde ele é instalado. Lembre-se de que o Tone Zone é um captador indicado para a ponte, portanto vai captar freqüências bem agudas. Sendo assim, considere que a falta de agudos constatada na tabela fornecida vai ser compensada pelo posicionamento do captador. Portanto, o Tone Zone não tem nada de abafado, embora você possa ter certeza de que ele é entupido de médios.

De qualquer maneira, seria bem legal se os fabricantes entrassem num acordo e unificassem os referenciais, não é?

A Seymour fornece o pico de ressonância dos seus produtos. Esse pico indica em qual faixa da freqüência o captador alcança seu maior volume – em que ponto do espectro sonoro ele tem mais volume. Isso é muito importante na compreensão do timbre dos Seymour. Veja o Invader de ponte: ele tem agudos relativamente contidos, mas tem o seu pico de ressonância da faixa dos 5 KHz, o que faz com que ele fale mais alto numa freqüência relativamente alta, ou seja: ele não é um captador de timbre opaco. Captadores de braço têm um pico mais alto ainda -por captarem numa região mais grave das cordas, eles precisam falar mais alto numa faixa mais alta para poderem obter clareza no timbre.

Por fim, algo que eu adoro: a Dimarzio e sua indicação de saída em milivots. Mas antes, lembra do seu carrinho de controle remoto? Ele era movido a pilhas, certo? Ele tinha um motorzinho que transformava a energia elétrica das pilhas em energia mecânica (que tracionava as rodas do carrinho). Portanto, o motor é um transdutor de energia: transforma a energia elétrica em energia mecânica. O captador da guitarra também é um transdutor: transforma energia mecânica das cordas da guiarra em energia elétrica. Ou seja: o captador é um motor ao contrário.

Um inofensivo single coil vintage tem cerca de 90 a 100 milivots (um milivot é a milésima parte de um volt). O brutal Dimarzio X2N tem cerca de 525 milivolts e o clássico Super Distortion tem 425. Portanto, a saída em milivots te dá uma idéia da potência da saída do captador.

Pois bem, conscientes destes pontos, poderemos trocar idéias sobre os captadores, especificamente os de bobina dupla. O espaço está aberto a perguntas e comentários e meu e-mail estará disponível, bem como o telefone da loja na qual desenvolvo minhas atividades. Espero que todos nós tenhamos boas trocas de informações.

Abraço a todos. Matem o hum,

Rafael Gomes