quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Sobre os pots da guitarra (texto originalmente publicado no grupo do Roberto Torao no Facebook e revisado para ser publicado aqui):


O captador da guitarra é um transdutor. Transdutor é um aparelho que transforma um tipo de energia em outro tipo de energia. Tentando explicar de forma simples: o captador “sente” a energia mecânica do movimento das cordas e a transforma em corrente elétrica alternada. Resumindo: seu captador é um motor ao contrário.

Essa corrente elétrica alternada que sai da sua guitarra tem uma intensidade muito baixa (por isso precisa ser amplificada) e pode ter sua intensidade e forma controladas de várias maneiras. A mais primária está ainda na sua guitarra: os controles de volume e tonalidade. Esse controle é feito por potenciômetros que comandam um circuito passivo. O potenciômetro é um resistor variável. Circuito passivo é aquele em que se controla e molda a intensidade e forma do sinal apenas retirando elementos, nunca adicionando. Adicionar elementos a um sinal é papel de um circuito ativo. Na sua guitarra, os pots apenas retiram coisas, jogando-as pro aterramento e eliminando-as. Ele pode jogar o sinal inteiro (diminuindo o ganho e volume, que é o papel do pot de volume) ou usar um pequeno capacitor que filtra somente uma parte das frequências (é aí que entra o seu botão de tone).

Os pots possuem 3 pólos (vamos chamá-los de 1, 2 e 3). Quando totalmente aberto, um pot de 500K tem resistência zero entre o pólo central (2) e o pólo 1, enquanto apresenta uma resistência de 500K entre o pólo central e o 3. Portanto, o quando seu botão de volume está no máximo, o sinal da sua guitarra tem passagem 100% livre pra fora, mas ao mesmo tempo tem um vazamento de sinal pro terra enfrentando uma resistência de 500K.

Sua guitarra é uma caixa d’água. Os pots são as torneiras, mas essa torneira tem um “defeito”, um furinho embaixo dela em que a água também é desperdiçada. Quanto maior for a resistência do pot, menor é o desperdício de água da caixa d’água. 

Há 3 coisas que os músicos devem observar ao comprar potenciômetros pra sua guitarra:

1- Valor: já expliquei acima. Se você usar pots de valor mais alto no volume, mais ganho sua guitarra terá. Se usar pots de valor mais alto no tone, mais brilho sua guitarra terá. Raciocine assim: quanto maior, mais. Quanto menor, menos. Por isso usamos pots de 250K (e não 500K) em botões de tone de guitarras ou captadores muito agudos. A diferença é sutil, mas existe;

2- Tipo: há vários tipos de pot. Os mais populares são os tipos A (logarítimico) e B (linear). O tipo de pot determina a quantidade de resistência que o pot aplica ou retira de acordo com o giro do botão. Explicando: 

2.1 - no pot de 500K tipo B (linear), a variação da resistência é progressiva e gradual. Quando o seu botão está no 5, a resistência é de 250K. Portanto, no gráfico, o pot linear indica uma reta e X = Y. O pot linear é usado em botões de volume. Se você usá-lo em botões de tone, entre o 10 e o 2 você não vai perceber mudança alguma. Do 2 pro zero o seu agudo cai de uma vez. É uma droga...

2.2- no botão de tone você precisa usar o pot tipo A pois no tone nós vamos lidar com capacitância e ela não é linear. O pot tipo A tem um corte abrupto no começo do curso e isso é necessário pra trabalhar com o capacitor de tone. Você pode usar o tipo A no volume, mas vai haver um corte abrupto entre o 10 e o 7. Entre o 7 e o zero vai haver pouca diferença. Há como contornar esse problema usando resistores, mas isso é outro assunto.

3- Qualidade do pot: a única coisa que varia entre os Noble, CTS e aquele vendido em qualquer esquina é somente a durabilidade. Pot é a tudo mesma coisa: ela apenas varia uma resistência e não existe resistência boa ou ruim.

Obs. 1: existe a questão da tolerância de valores, e você pode aprender sobre isso num textinho q eu escrevi aqui: http://blogdoluthier.blogspot.com.br/2011_03_01_archive.html

Obs. 2: No seu equipamento há outro transdutor. Eu dou um pirulito pra quem me disser qual é.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Tô voltando. Eu acho...

O layout do blog fica bom assim?

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Dimarzio Area

Eu sempre fui um guitarrista que usa humbuckers (esse blog não tem o nome que tem à toa, não é?). Mas não é que eu não goste dos sons de single. Pelo contrário! A minha repulsa aos singles dá-se única e exclusivamente por causa do ruído. Já vi em comunidades do Orkut pessoas dizendo que a blindagem resolve. Isso não é verdade. A blindagem não resolve o ruído dos singles. Ela apenas evita aquele ruído chato que aparece quando você retira as mãos da sua guitarra. O outro problema das strato é que quase todas têm 3 singles onde os pólos de cada um deles são os próprios imãs do captador que, em geral, são feitos de alnico V com carga máxima jogando atração magnética nas cordas. Pense bem: são 3 fontes de atração em cada corda. Isso quer dizer que vocês não podem aproximar muito os captadores das cordas. Isso mata o sustain e gera umas anomalias toscas na afinação em algumas notas (especialmente nas casas mais agudas das cordas G e D). Solução: afastar os captadores das cordas e perder ganho. Se eu corro, o bicho pega. Se eu ficar, tenho que lutar jiu-jitsu com ele.

Mas devemos mesmo buscar maneiras de eliminar o ruído dos single coils? Se sim, como fazê-lo? Captadores ativos? Stacks? O miraculoso circuito da Suhr? Ou será que os humbuckers em tamanho de singles que emulam os timbres de single são a melhor alternativa? Poucas vezes nesse tempo lidando com guitarras eu pude ver uma polêmica tão grande quanto essa.

Minhas primeiras experiêncisa com tentativas de sons de single sem ruído foram muito frustrantes. A primeira foi com o antigo stack da Seymour (STK-S1). Aquele captador é um horror. Depois foi com a primeira geração de Fender Noiseless. Péssimo. Logo depois eu usei a última geração de stacks da Seymour (STK-S4) que só não foi o pior de todos por causa da minha tentativa seguinte, que foi com a segunda geração de Fender Noiseless, o SCN, patente comprada do mestre Bill Lawrence. Minha Nossa Senhora das palhetas perdidas, esse captador é uma piada de mal gosto. O som é de plástico, duro, sem vida. Um horror.    

Não preciso nem dizer pra vocês o tamanho da minha decepção depois de tantas tentativas.               

Eu tenho à minha disposição um par de stacks da Tom Anderson (marca pela qual tenho profunda admiração pela qualidade do material) e da EMG, mas meu trauma com os stacks foi tão grande que nunca os coloquei em guitarras minhas. Eu não tentei nem mesmo usar a primeira geração de Dimarzio Virtual Vintage, e vocês sabem que eu gosto dos Dimarzio. Mas eis que a própria Dimarzio uma geração nova de Virtual Vintage, chamada de Area. Primeiro foram os modelos 58 e 61. Meses depois o Area 67 estava disponível. A proposta dos Area era levar os Virtual Vintage um passo à frente em termos de timbre e reduzir ainda mais o ruído. E lá fui eu conferir os captadores. Eu comprei o 58, o 61, o 67, o 54 Pro e o Virtual Vintage Heavy Blues 2. Tirem proveito disso, pois meu bolso reclamou.

A diferença de timbre entre os modelos 58, 61, 67 e 54 Pro é mínima e faz mais parte do marketing da Dimarzio. O Heavy Blues 2 já é, sim, mais gordinho. Todos são muito legais, mas o HB2 e o 58 foram os meus preferidos.

Vamos de cara para os prós dos Area:

1- Até conhecer os Area os captadores mais silenciosos que eu conhecia eram os Dual Blade do Rosar. Os Dual Blade continuam morando no meu coração sem pagar aluguel, mas os Area conseguiram a proeza de ser mais silenciosos ainda. Pessoal, o caso é sério: eles são tão silenciosos que às vezes em tiro as mãos da guitarra pra fazer alguma coisa e até penso que o botão de volume da guitarra está fechado. E olha que eu uso pouco ou nenhum noise gate;

2- Eles são feitos com alnico II. Isso quer dizer que a atração magnética é bem menor que nos single normais. Posso usá-los um pouco mais perto das cordas, ter um ganho extra e mesmo assim ter um alcance dinâmico excelente. Alnico II é ótimo nesse ponto! Esses elogios se estendem aos humbuckers com alnico II ou com alnico V com sistema de suavização de campo magnético;

Sérgio Rosar e eu conversamos muito sobre essas características e ele me chamou atenção para um fato. As maravilhas proporcionadas pelo uso de alnico II em singles geram um pequeno problema: como o alnico II tem uma carga magnética menor que o alnico V super saturado que usa-se normalmente em singles, nós acabamos abrindo mão daquele som percussivo maravilhoso que nós temos nas cordas graves quando usamos singles normais. A suavidade do alnico II oferece um som menos percussivo, mais doce e punch mais suave. Isso pode ser o que você está procurando pra amaciar aquela sua strato tremendamente aguda e rachadiça, mas saiba que esse não é o som de strato que nós ouvimos nos discos do SRV, Hendrix, Nile Rogers e outro strateiros de quem somos fãs.

Essa maior suavidade do ataque das cordas graves (quando comparados a singles reais) dos Area são o maior problema desses captadores. Eles falham em tentar gerar o som exato de singles clássicos, mas são sem dúvida muito melhores do que qualquer stack que eu tenha usado até hoje. Fico muito impressionado que a Dimarzio ainda não tenha atentado para isso. Se vocês consultarem o catálogo da Dimarzio poderão ver que os Virtual Vintage de ganho mais alto (Virtual Vintage Solo, Virtual Vintage Solo Pro e o Virtual Solo) usam alnico V. Claro que isso é por causa do ganho e esses não têm a proposta de soar como single, mas minha sugestão pra sanar esse problema dos Area é o uso do conceito do Five-Two da Duncan (alnico II pras cordas agudas e alnico V pras graves) ou simplesmente abandonar o uso de alnico II nos stacks. Mas pros conceitos da Dimarzio isso provavelmente seria dar um passo pra trás na busca por um stack com pouco atração magnética.

Os novos Virtual Vintage são timbristicamente convincentes, são silenciosos, têm um excepcional alcance dinâmico, mas não são essa maravilha toda que a Dimarzio alega. Eu mantenho aqui uma strato com a qual me divirto muito com Heavy Blues 2 na ponte e o 58 no meio e braço. Essa strato e uma tele são as minhas únicas guitarras sem captadores Rosar. E vou continuar usando essa strato com os Area. A não ser que eu consiga uns stacks Kinman e eles sejam mesmo essa maravilha toda que dizem por aí. A propósito: o Kinman parece concordar com a opinião do Rosar e acredita que o alnico V continua sendo a melhor idéia pros stacks.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Sobre captadores na posição central

Companheiros,

No último post eu notei que algumas pessoas usaram a sessão de comentários pra fazer perguntas e colocações sobre captadores da posição central. Eu já perdi a conta de quantas pessoas me perguntaram isso aqui no blog, no orkut e por e-mail. Eu acho esse assunto bastante sério e resolvi fazer um post pra gente trocar idéias sobre isso.

Antes de falar de captador do meio, vamos aos captadores das pontas. Tem gente que gosta de colocar captadores de ponte e braço de ganho alto. Tem gente que gosta de ganho alto na ponte, mas prefere ganho vintage no braço. Mas tem gente que prefere ter single coils de saída baixa. Isso é questão de estilo, é claro.

Por que raios eu tô falando dos captadores das pontas? Por um motivo simples: as diversas “escolas” de uso do captador do meio dependem diretamente dos outros captadores. Vamos falar dessas “escolas”:

1- a escola Steve Vai: é o velho H-S-H. O single no meio em geral é um single real e não um humbucker em tamanho single. Esse grupo não usa o captador do meio sozinho – eles sempre usam o do meio junto com algum outro. Eles usam um single real no meio por preferirem a fiação que liga apenas uma das bobinas dos humbuckers junto com o single do meio. Os captadores são arranjados de forma que o single e a bobina que é ativada do humbucker fiquem em paralelo e RW/RP uma em relação à outra. Isso oferece um timbre sem ruídos, limpo e nítido, mais adequado a dedilhados limpos e acordes. Nessa fiação, a única posição da chave que gera hum é o single sozinho. Resumindo: na escola Steve Vai, o single do meio serve pra oferecer um timbre mais limpo a uma guitarra que geralmente tem humbuckers de ganho muito alto nas pontas. É nítida a diferença de volume quando o single do meio é acionado. Isso acontece pela diferença de ganho entre o single e os outros dois captadores. Mas isso é realmente a intenção.


Há pessoas que usam um stack ou humbucker em tamanho single de baixo ganho no meio. Eles preferem misturar os timbres, sem cancelar bobinas. Aqui também o intuito é ter timbres limpos mesmo tendo captadores de ganho alto nas pontas.

2- A escola Juninho Afram: é um H-H-H. Usei o Juninho como referência por saber que ele usa captadores de ganho alto no meio. Essa escola não quer saber de timbres limpos na guitarra. É pancada em todas as posições – exceto nas posições intermediárias, quando os captadores ficam em paralelo, ou seja: o ganho dos dois é somado e dividido por dois. Mesmo assim não há um timbre verdadeiramente limpo (no sentido de cristalino Fender) na guitarra, a não ser que haja algum push-pull pra cancelar bobinas. A intenção no H-H-H é não haver muita diferença de ganho entre os captadores. Alguns instrumentos H-H-H notáveis: a Les Paul Peter Frampton, Les Paul Ace Frehley e a lindíssima PRS Chris Henderson;

3- A escola dos timbres magros: representados por estilos muito diversos como funk, banda Calipso, country, pop e o diabo a quatro. Em geral são 3 captadores de ganho baixo (singles reais, stack ou humbuckers em tamanho single de baixo ganho). Eles misturam os captadores com o real intuito de obterem timbres mais magros, ocos, de ganho baixo e com o velho “quack” tipo Fender. Ouça o Mark Knopfler, Nile Rogers, Chimbinha e John Frusciante e vocês vão entender.

(Rapaz, só mesmo nesse blog pro Chimbinha aparecer como referência de timbre. E junto com o Mark Knopfler!!! Tem coisas que só acontecem no Zona do Humbucker...)

4- A escola SRV: pra quem não sabe, a chave de 5 posições é “novidade”. Ela só surgiu em 1977. Até então, só havia 3 posições na strato. Alguns blueseiros usavam e usam muito o captador do meio sozinho. Eric Clapton usa às vezes. Buddy Guy também. Uma informação pra quem não sabe: o riff de Pride and Joy é pra ser tocado com o captador do meio. Por isso eu chamei de “escola SRV”;

5- A escola Blackmore: Malmsteen também é dessa escola. Observem fotos ampliadas do Malmsteen e do Ritchie e percebam que eles afastam o captador do meio das cordas. Pros caras dessa escola o captador do meio não serve pra nada. Eles usam só os das pontas. Bem, quase todas as Gibson também só têm 2 captadores, o que os coloca nesse time. Os imãs expostos do captador da strato são de alnico V, que têm uma atração magnética relativamente forte. Pense comigo: um dos fatores que atrapalha o sustain da strato é que ela tem 3 pólos de alnico jogando força em cada corda, atrapalhando o sustain. Se você elimina o captador do meio, você tem mais sustain na guitarra. Outro argumento dos que não usam captador do meio é que a palheta fica raspando nos pólos do captador.

Pronto, eis as possibilidades. Qual é a sua necessidade? Timbres magros pra funk? Você usa captadores de ganho alto e quer ter um timbre um pouco mais limpo sem trocar de guitarra? Está insatisfeito com a diferença de volumes entre os captadores?

Você só precisa se perguntar algumas coisas. Imagine que você tem um par de Evolution na sua guitarra. Você tem certeza que precisa mesmo de um terceiro captador de ganho alto? Pergunto isso por já ter usado captadores de ganho alto no meio. Olha, você acha mesmo que há uma grande diferença entre o som de um Litlle 59 no braço e no meio? Eu não uso mais captador no meio. Sou da escola Blackmore de carteirinha. Eu só coloco captador do meio na guitarra se for pra ter um timbre realmente diferente. Portanto, de todas as escolas, a H-H-H é a que faz menos sentido pra mim. Mas lembre-se: isso é questão pessoal e você deve ir atrás do seu timbre.

Então vamos às dúvidas que surgiram no orkut, por e-mails e aqui no blog:

Você tem humbuckers de ganho alto q quer ter um timbre limpo digno na gutiarra? Você pode colocar algum single verdadeiro no meio e fazer a fiação que cancela uma bobina de cada humbucker da ponte. Pra isso você precisa ter certeza que vai comprar um single que seja RW/RP em relação aos humbuckers e pedir pro seu luthier fazer a fiação. Pra isso você tem toda a linha de singles reais dos fabricantes: os Duncan Five-Two, Vintage Staggered, Alnico II Pro, um caminhão de Fender, os Rosar True Vintage e Vintage Hot. Esses são os mesmos que você deve experimentar se quiser os timbres pra country, blues, pop ou funk. Há muitos modelos disponíveis.

Outra possibilidade é colocar um bom stack ou humbucker em tamanho single de ganho baixo e instalar o captador sem arranjos especiais na fiação. Aí nos temos Duncan Duckbucker, STK-S1, STK-S4, Dimarizio Virtual Vintage e a linha Área, Cruiser, os ótimos stacks da Tom Anderson ou os Rosar Strat Tone.

Se você tem humbuckers de ganho alto e quer um captador no meio de ganho alto, experimente o JB Jr. neck, Litlle 59 neck, Cool Rails neck, Fast Track 1, Rosar King Mid neck, Extreme Hot neck, Screaming Distortion ou Twin Vintage neck. É também um caminhão de alternativas.

Estou à disposição pra tirar as dúvidas. Abraço!


quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Sérgio Rosar Extreme Hot


Todo mundo que acompanha o Zona já está sabendo que eu estou trabalhando com o Sérgio Rosar no desenvolvimento de captadores de guitarra. Tem sido um trabalho maravilhoso, gratificante e divertido. No nosso trabalho eu encontrei 3 categorias de captadores: modelos novos sendo desenvolvidos, modelos antigos passando por pequenas modificações e modelos antigos que já nasceram tão legais que não havia nada mais a modificar.

O captador que quero apresentar a vocês hoje pertence à terceira categoria. O Extreme Hot faz parte da linha Dual Blade (humbuckers em tamanho de single com lâminas). Essa linha conta com 5 modelos: Strat Tone, Twin Vintage, Screaming Distortion, King Mid e o Extreme Hot. A timbragem é variada e temos desde um som típico de strato (Strat Tone) até a brutalidade metaleira (Extreme Hot). Ou seja: tem som pra todo mundo.

Eu estava bem curioso em testar o captador – desde que eu havia comprado o Tone Zone S que eu não testava nenhum outro humbucker em tamanho single de ganho alto – e vocês sabem que eu ainda não me recuperei do trauma dos humbuckers em tamanho single da Seymour. E foi aí que eu quase chorei ao tocar com o Extreme pela primeira vez: eu achei parecido com o Hot Rails. Toquei um pouquinho e encostei a guitarra. Mandei um e-mail pro Sérgio quase chorando de tristeza e ele me respondeu dizendo pra eu tocar mais com o captador. Ele estava certo. Demorou quase uma semana pra cair a ficha, mas depois de um tempo eu comecei a entender a idéia do Extreme. Bem, a idéia fundamental do Hot Rails é: um humbucker em tamanho single bastante enrolado, com imã cerâmico e duas lâminas resultando num timbre de ganho alto, anasalado, pouco alcance dinâmico, com graves e agudos sem profundidade. A idéia do Sérgio foi partir dessa plataforma básica e experimentar com outra pressão e dispersão do fio e alterar a distância entre as lâminas. O resultado disso é um captador muuuuito marrento, abusado, com um punch destruidor, alcance dinâmico mais extenso, com graves mais profundos e presentes e um pouco mais de brilho que o Hot Rails.

Se você toca rock’n roll ou pop talvez possa se beneficiar um aumento de ganho oferecido por este captador, mas é claro que ele foi feito pra hard rock e metal pesado. Riffs abafados com power chords ficam com peso de uma bigorna e com definição impressionante. Você vai encontrar no Extreme Hot os médios anasalados do Hot Rails, que parecem ser restritos a uma faixa específica (a própria curva tonal do Extreme Hot fornecida a mim pelo Sérgio sugere uma distorção angular). Acontece que amplitude do timbre é muito maior graças às pontas da equalização mais abertas e presentes.

Eu já falei isso em outro post, mas vou relembrar: os Rosar são fabricados à mão pelo mestre Rosar e usando materiais made in Brasil (nada de material ou mão de obra importadas na Rosar Pickups). Você vai ter garantia, preço muito atraente, acabamento ótimo e os Dual Blade têm 3 opções de cores: preto, branco e zebra. O meu é branco. Lindo.

Um amigo meu e grande professor chamado Pilho gravou uma música chamada Frente e Verso usando a combinação Extreme Hot na ponte e o Twin Vintage no braço na sua Washburn strato. Essa música é a prova de que esses captadores soam muito bem no contexto do rock tecnicamente ambicioso. Vocês podem ouvir a música em www.myspace.com/pilhotrix

Tenha em mente que este é um captador específico. Não espere que sua strato permaneça com timbres típicos de strato com o Exteme Hot. Quem coloca este captador não quer o timbre do David Gilmour. Se você quer rolar o hard rock e metal com sua strato esse é o captador perfeito pra você.

Com seu pico de ressonância em 4,6kHz ele nunca vai ficar agudo demais. Esse captador tem 340mV de saída e é provável que ele seja o humbucker em tamanho single de maior ganho disponível no mercado atual. Acontece que a timbragem do captador realmente sugere que ele tem muito mais ganho.


- Preferi usá-lo para: sons de ganho muito alto para hard rock e metal

- O que me passa pela cabeça quando lembro dos timbres que ouvi: que vc pode buscar os médios anasalados do Hot Rails e se dar ao luxo de abrir as pontas da equalização.

domingo, 29 de junho de 2008

Livewire™ Dave Mustaine Model


Certo, eu tô com 27 anos de idade e 10 deles fuçando eletrônica de instrumentos, mas isso não me isenta de ter minhas preferências, vícios e preconceitos. As preferências eu cultivo com carinho, me ajudam e quase sempre são construtivas. Os vícios aparecem como efeitos colaterais das preferências e podem até ajudar, mas podem impedir que eu construa coisas novas. Os preconceitos podem ser efeitos colaterais dos vícios e muitas vezes são a razão da gente virar um velho chato e rabugento.

Meu preconceito com captação ativa vem de ouvir todo mundo que a usa e não gostar do som – com a honrosa exceção do David Gilmour. EMG acabou sendo a referência em captação ativa no mundo todo. Reconheço e aplaudo de pé todas as suas vantagens dos ativos: ruído baixíssimo, baixa impedância (que permite o uso de cabos longos ou pedais sem bypass total) e a não necessidade do aterramento da ponte (que te livra de eventuais choques no caso de algum vazamento de corrente ou curto-circuito no equipamento). Captadores ativos teriam impedido o horroroso acidente com um guitarrista fortalezense chamado Davi Fernades, que é meu cliente. Num show em Teresina ocorreu uma descarga elétrica no equipamento dele, talvez causada com um curto. Ele estava segurando a guitarra encostou a outra mão no amplificador. Ele estava aterrado pelas cordas e o choque foi grande que ele fraturou uma vértebra.

Zakk é o cara da moda, então eu vivo instalando os EMG 81 e 85 em guitarras aqui. Eu reconheço que o timbre é adequado pra metal extremo e eles têm um ótimo ataque, mas aqueles médios atarracados são complicados de eu engolir. Já tocaram nos EMG ativos de guitarra? Nunca acharam que a guitarra está “gripada” com aqueles médios saindo como se a guitarra estivesse com o nariz entupido? Aí vem a Duncan e lança a nova geração dos seus captadores ativos, dentre os quais o Livewire Mustaine. Eles juram pelo espírito do finado Seth Lover que eles soam como se fossem versões ativas do JB e o Jazz Model. E agora, o que eu devia fazer? Parei, pensei, filosofei, me enchi de coragem, tirei o escorpião do bolso e comprei os malditos.

Se a proposta era ser uma versão ativa do kit Hot Rodded, imaginei que o ideal era instalar os captadores numa guitarra macia e minha Horizon foi escolhida. Só que dando uma olhada no catálogo da Duncan eu vi que os picos de ressonância do kit Mustaine não casavam com o kit Hot Rodded – aliás, não passavam nem perto. Os Mustaine tinham picos em faixas mais baixas que o kit Hot Rodded. Fiquei encucado, mas mesmo assim resolvi esperar os captadores chegarem pra instalar na ESP.


O visual do captador é lindíssimo. Não tem aquela capa feiosa dos EMG e antigos Livewire. Ele tem uma capa metálica cor de grafite com a assinatura do Dave Mustaine estampada e por trás é totalmente selado com resina epóxi. Minha ESP ficou tão linda com eles que eles só saíram dela por causa do timbre: o que estava no catálogo era verdadeiro. Pro meu gosto pessoal os captadores não casaram legal com uma guitarra muito macia. Na Horizon eles não atingiram os picos de agudos que eu gosto pra atravessar o som da banda. Eu nem sonharia em colocar esses captadores numa Gibson.


Mas na minha Teleblaster de cedro aguda feito um curió os Mustaine apareceram e o careca que vos escreve teve orgasmos timbrísticos. Vamos começar pelo óbvio: eles têm um ganho um pouquinho maior que o JB e o Jazz Model, mas nenhuma diferença gritante em termos de ganho. Numa guitarra rachadiça, aquele brilho que faltou na ESP apareceu e o ataque dos agudos ficou bem evidente. Outra coisa que ficou misteriosamente evidente foi o DNA Duncan – os agudos crocantes tipo “mamãe, eu quero ser um captador Gibson!”, os médios amplos, o ataque marrento e até a leve falta de articulação do JB. Todo mundo sabe que pra mim o JB é a drag queen dos captadores (exagerado, caricato e espalhafatoso). No entanto, faça um exercício de imaginação e tente visualizar o JB depois de 3 anos no Exército. O Mustaine de ponte é isso. Curto, grosso, sem frescura, cabelo cortado com máquina, limpo e o mais surpreendente de tudo: não parece em nada com outros captadores ativos. Nada de som processado aqui. Quando eu ouço os EMG eu sei que são EMG e ativos. Mas se eu fizesse o teste cego com o os Mustaine eu jamais diria que é um captador ativo.


O de braço é satisfatório: moderado, agradável e articulado. Faz seu papel dignamente, mas faltou um pouco mais de brilho e informação de médio-agudos. Esse sim deveria ter um pouco mais do caráter do Jazz Model, que é um poço de cristalinidade e brilho. O Mustaine de braço não vai fazer feio na sua guitarra, mas a impressão que eu tenho é que a Duncan gastou mais tempo dando atenção ao modelo de ponte e não foi tão criteriosa na timbragem das faixas altas do outro.
Eu não vou gastar o meu tempo e o de vocês falando sobre o desempenho do captador em ganho alto – os captadores timbram polidos, poderosos, rugem alto e foram feitos pra um deus do metal que ressurgiu das cinzas. O que me deixou de queixo caído foi o desempenho dos captadores em ganho médio. Eles soaram são consistentes, tão dinâmicos, tão orgânicos e tão delicados que eu fiquei aqui sem entender como é que um captador com proposta metaleira me deu os sons do Jeff Beck do Blow by Blow!!! Nunca em nenhuma guitarra e captador meus me deram um som tão parecido com o de Cause We’ve Ended As Lovers!!! Não é brincadeira. Só vocês instalando pra acreditar. Curiosidade: veja a resenha sobre o JB e descubra quais captadores estavam na tele que o Jeff Beck usou pra gravar Cause We’ve Ended As Lovers.

Baixa atração magnética, baixa impedância e sem precisar de aterramento de cordas (as vantagens dos captadores ativos não fazem mal a ninguém, concordam?). Mas os Mustaine não têm sons de robô, têm visual deslumbrante e sons com DNA Duncan muito bons. A Duncan abriu a porteira pra fazer outros Livewire com sons mais orgânicos e talvez um par com ganho moderado. Por hora os Blackouts estão por aí devastando o planeta, mas soam mais próximos dos EMG. Enquanto isso os Mustaine são muito bons e não soam processados. Eles parecem apenas com ótimos Seymour Duncan clássicos. E isso é muito bom.

- Preferi usá-lo para: sons de ganho muito alto sem ruídos e timbres com ganho médio como os de Jeff Beck da era Wired e Blow by BLow.

- O que me passa pela cabeça quando lembro dos timbres que ouvi: que atirar nos sons do Megadeth e acertar em Cause We've Ended as Lovers é uma infelicidade muito feliz.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Sobre a parceria com a Sérgio Rosar Pickups

Muito bem, cá estou de volta às atividades e começo dizendo que estou muito feliz pela repercussão que o blog está tendo. Ando recebendo e-mails e recados no Orkut aos montes. Essa é a primeira coisa boa. A segunda é que através do blog eu fui contatado por um jovem senhor de Florianópolis chamado Sérgio Rosar. Ele é um construtor de captadores. Nesse momento a Rosar Pickups já conta com uma linha completa e à venda de single coils, humbuckers em tamanho single (que ele chamou de Dual Blade) e humbuckers de quatro bobinas (chamado de Quad Blade). O Sérgio me pediu para ajudá-lo a desenvolver sua linha de humbuckers e já estamos trabalhando feito dois malucos há quase dois meses. Até o momento em que escrevo esse texto eu já recebi 21 captadores Rosar que estão espalhados em “trocentas” guitarras minhas e em guitarras de duas pessoas de minha confiança para testes.

Amigos, dentre os Dual Blade, há dois modelos que estão fadados a ser um sucesso: o Twin Vintage (uma versão mini de um PAF, perfeito pro braço) e o Extreme Hot (captador de ponte bem agressivo). Com esses dois captadores o Sérgio conseguiu uma proeza: capturar tudo que eu gosto nos humbuckers em tamano de single e eliminar as deficiências. Eles são incríveis! Eu não tive nenhuma participação no desenvolvimento desses captadores. O mérito é todo do Sérgio.

Dentre os que estão em guitarras minhas há alguns que já estão definidos e outros que estão em desenvolvimento. Temos nesse exato instante três humbuckers de alto ganho pra ponte. Um deles o Sérgio chamou de Punchbucker. É o mais agressivo da turma e já tem seu companheiro pra braço definido. Fantástico pra quem desce a afinação. O segundo chama-se Rock King. Este não vai ter modelo de braço, pois achamos que a maioria das pessoas vai querer casá-lo com algum PAF no braço. Atenção, fritadores! Vocês vão gostar do terceiro! É o meu preferido até o momento e eu o batizei de Supershred. Este já tem seu modelo de ponte definido, fritado, testado e aprovado pelo careca que vos escreve. O Supershred está com seu parceiro de braço no forno e será definido em breve (tenho 3 protótipos em teste e um deles será o ponto de partida). Existe a possibilidade de um quarto captador entrar em cena, mas será um projeto futuro e será surpresa pra vocês.

Há dois PAFs em andamento. O primeiro deles é uma recriação do primeiro PAF, o de 1955, em que vocês terão muita dinâmica, muita suavidade, faixa de agudos extremamente detalhada e um som muito musical. Ele usará alnico 5, mas com um sistema de suavização do campo magnético, que torna o captador muito mais sensível à sua pegada e aumenta muito o sustain da sua guitarra. Assim como os PAFs de 55, esse captador não será parafinado. O segundo será uma versão com mesma quantidade de ganho, mas será parafinado, com menos detalhes de agudos e com o som gordo que todo mundo tá careca de ouvir dos PAF do fim dos anos 50. Ambos terão versões de braço e ponte. Nesse momento eu estou com 5 versões desses PAFs. Eu estou instigando o Rosar a fazer uma versão de um Hot PAF para a ponte depois que definirmos toda a linha.

Garanto a vocês que eu não estaria me envolvendo com um projeto se não fosse pra ser grande. Sérgio Rosar não está trabalhando pra criar uma linha “acessível” de captadores. Os produtos que eu tenho instalado nas minhas guitarras são, com a mais absoluta certeza, concorrentes diretos de Seymour, Dimarzio, Tom Anderson e Gibson, com a vantagem de ser mais baratos. Além disso, o Sérgio oferece um serviço de Custom Shop. Você quer um Tone Zone com menos médios? O Rosar faz.

Sérgio Rosar é um cara que me impressiona a cada dia. Ele é cheio de entusiasmo, dedicação ele escuta todas as minhas observações com atenção, mesmo que às vezes não concorde com todas elas. Ele me procurou querendo um parceiro de trabalho com o mesmo entusiasmo dele e encontrou. Lá se vão quase dois meses de trabalho sem parar – até aos domingos eu venho até a loja pra instalar captador em guitarra minha. Cada um de nós dois está fazendo sua parte com muito empenho e os frutos disso já podem ser observados e adquiridos por vocês. Vocês podem visitar o site www.sergiorosar.com e verificar os modelos disponíveis, embora os novos humbuckers ainda não estejam lá. Para qualquer esclarecimento vocês podem entrar em contato comigo ou com o Sérgio.

Portanto, eis o Zona do Humbucker e o seu fundador deixando de colaborar com vocês apenas virtualmente pra colaborar objetivamente – graças, é claro, ao trabalho de um pequeno gênio de Florianópolis. Esse é só o começo de um grande trabalho.